Mulher lidera processo de inovação em tradicional empresa familiar de suinocultura

À frente de uma história que atravessa quatro gerações, Andrea Ianni Cancian transformou a suinocultura da família em um modelo de excelência e sustentabilidade. Zootecnista formada pela USP de Pirassununga, ela combina inovação e respeito às origens no comando da Fabene, empresa com quase 100 anos dedicados à criação de suínos no Brasil. Com paixão pelo campo e profundo compromisso com o bem-estar animal, Andrea vem consolidando uma produção que alia tradição, qualidade e responsabilidade do campo à mesa.
Filha, neta e bisneta de suinocultores, Andrea cresceu acompanhando o trabalho da família no campo. “Sempre soube que trabalharia no agro. Era o universo que eu conhecia e, aos poucos, fui pegando gosto pela profissão e pelo campo”, contou a empresária durante entrevista ao programa A Protagonista, do Canal Rural.
Hoje, além de empresária e líder de uma das marcas mais respeitadas da suinocultura nacional, Andrea é mãe da Catarina e do Otávio, e neles encontra sua maior motivação. “A inovação é essencial, mas sem perder a essência e o respeito ao animal, ao meio ambiente e à cultura caipira”, afirma.
Gestão e tecnologia em um sistema de ciclo completo
A Fabene trabalha no sistema de ciclo completo, com mais de 3 mil matrizes, o que significa que a empresa realiza todas as etapas da produção. Segundo Andrea, o maior desafio é a gestão.
“São muitas fases, muitas dietas e muitas pessoas envolvidas. É preciso um bom controle de dados e uma equipe técnica preparada, porque a tecnologia na suinocultura evolui o tempo todo”, explica.
A genética é outro ponto-chave. A Fabene utiliza duas linhagens principais, realizando a seleção de reprodutoras com base em características físicas e genéticas, além de sistemas globais de avaliação. “O cruzamento é definido a partir de dados genéticos e de performance. Tudo é feito de forma técnica e precisa, garantindo qualidade e padronização”, detalha.
Sustentabilidade como obrigação e valor
De acordo com a zootecnista, na Fabene, sustentabilidade não é diferencial, é compromisso. A propriedade possui um sistema completo de tratamento de efluentes, que transforma resíduos em energia e biofertilizantes.
“Todo efluente passa por biodigestores, que geram energia e produzem um biofertilizante usado na fertirrigação. O que antes era um problema virou solução”, explica Andrea.
O modelo cria uma verdadeira economia circular: o dejeto do suíno vira nutriente para o pasto, que alimenta o gado, que retorna à cadeia como carne. “Sustentabilidade é investimento, não gasto. O sistema se paga com o tempo”, afirma.
Suíno Nilo Canastra: o resgate de um sabor brasileiro
Além da produção tradicional, Andrea lidera o projeto Suíno Nilo Canastra, uma raça brasileira descendente do porco preto ibérico, o mesmo do famoso presunto pata negra. O animal quase desapareceu com o avanço das raças voltadas apenas à produção de carne magra, mas agora ganha espaço novamente.
“O Nilo Canastra resgata o sabor, a suculência e a cultura caipira. É uma carne de terroir, que traz o gosto e as características da região onde é criada”, explica Andrea.
Criados em sistema intensivo a pasto (Ciscal), os animais recebem alimentação controlada, mas também consomem raízes e castanhas do ambiente. O resultado é uma carne mais vermelha, marmorizada e com sabor marcante, ideal para a alta gastronomia e a charcutaria artesanal.
“O consumidor percebe a diferença e busca esse sabor de verdade. Hoje há uma valorização crescente dos produtos regionais, feitos por pequenos produtores com propósito. Esse é o nosso diferencial”, diz Andrea.
Veja abaixo a entrevista completa de Andrea para o programa A Protagonista:

