quarta-feira, julho 30, 2025
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Terras raras podem ser trunfo brasileiro nas negociações sobre o tarifaço



Em meio ao anúncio do tarifaço por Donald Trump, os norte-americanos sinalizaram interesse nas jazidas brasileiras de terras raras, um grupo de minerais essenciais para a produção de tecnologias avançadas e sustentáveis.

Segundo o engenheiro ambiental e professor da Universidade Estácio, Robson Costa, esses elementos são considerados estratégicos e despertam o interesse de grandes potências justamente por sua aplicação em setores como energia limpa e defesa.

“São 17 elementos com propriedades magnéticas, ópticas e térmicas que os tornam fundamentais para a fabricação de baterias, motores de carros elétricos e turbinas eólicas. Eles são a base dos chamados “minerais verdes”, ou seja, matérias-primas essenciais para a transição energética e para o desenvolvimento sustentável”, explica o professor.

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Costa destaca que o Brasil detém uma das maiores reservas de terras raras do mundo, mas ainda depende de outros países, principalmente da China, para o processamento desses minerais.

“Temos cerca de 18% das reservas mundiais de terras raras, mas apenas 1% é processado aqui. Hoje, quase tudo que extraímos é enviado para a China, que responde por 85% do processamento global. Isso mostra como ainda somos exportadores de matéria-prima, com pouco valor agregado”, afirma.

Para ele, esse cenário precisa mudar com políticas públicas que incentivem não só a mineração, mas também o processamento e a industrialização local desses materiais.

“Não podemos continuar como uma colônia exportadora. É preciso agregar valor aos nossos recursos naturais. O Brasil precisa investir em tecnologia e criar condições para dominar a cadeia produtiva das terras raras”, defende Costa.

O interesse dos EUA nas reservas brasileiras ocorre em um contexto de disputa comercial com a China, que hoje domina a produção e o processamento global desses minerais. Para Costa, esse fator pode ser usado como carta estratégica nas negociações envolvendo o tarifaço.

“Os EUA têm pressionado o Brasil para ter acesso a essas jazidas justamente porque buscam diversificar fornecedores e reduzir a dependência da China. Isso pode ser um ponto de vantagem para o Brasil nas conversas sobre o aumento de tarifas sobre nossas exportações” avalia.

Sustentabilidade

Apesar do potencial econômico e estratégico, a exploração de terras raras exige cuidados rigorosos devido aos impactos ambientais que pode causar.

” Esses minerais, apesar de essenciais, possuem um grau de radioatividade. Sua extração envolve o uso de ácidos fortes, como sulfúrico e clorídrico, que podem contaminar lençóis freáticos e causar poluição atmosférica, incluindo chuva ácida. O passivo ambiental pode ser elevado se não houver controle”, alerta Costa.

Ele ressalta que o país precisa avançar em tecnologia e legislação ambiental para garantir uma exploração sustentável.

” É fundamental que o Brasil desenvolva tecnologias limpas, tenha uma legislação rigorosa e adote práticas responsáveis. Precisamos garantir que os impactos da extração não recaiam somente sobre nós. É preciso mitigar os danos e fazer uma exploração coerente e ambientalmente correta”, afirma.

Reservas

Atualmente, as principais jazidas de terras raras no Brasil estão localizadas na região Nordeste, especialmente no estado do Piauí.

“A maior concentração está no Piauí, mas também há reservas em Minas Gerais e, recentemente, foram identificadas áreas próximas ao litoral do Rio Grande do Sul. Há ainda indícios na bacia amazônica, embora a extração ali seja mais limitada”, informa Costa.




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