Brasil deve bater recorde de exportação de carne bovina mesmo sem os EUA, diz analista
A compra de carne bovina brasileira pelos Estados Unidos despencou 80% em três meses, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Entretanto, o analista da consultoria Safras & Mercado Fernando Henrique Iglesias lembra que, ao se considerar o primeiro semestre de 2025, os embarques da proteína animal ao mercado norte-americano subiram quase 100% em comparação ao mesmo período de 2024.
Segundo ele, na comparação mês a mês, o único que apresentou declínio quanto às exportações do produto brasileiro aos Estados Unidos foi junho.
“Esse declínio [de junho] vai muito em torno das necessidades de demanda. Os Estados
Unidos tiveram uma grande quantidade de compras durante o mês de abril, que foi o pico das exportações brasileiras, com 74 mil toneladas em equivalente de carcaça. Depois disso, passou a declinar: foram 45 mil toneladas em maio e em torno de 31 mil toneladas em junho. Mas, de qualquer forma, o saldo é muito positivo. O Brasil vendeu muito para o mercado norte-americano.”
De acordo com o especialista, os números mostram que o resultado é extremamente satisfatório para o setor pecuário brasileiro e, justamente por isso, o tarifaço anunciado por Donald Trump preocupa o Brasil e gera impactos no mercado interno.
A despeito das medidas dos Estados Unidos, Iglesias destaca que o Brasil fornece grandes quantidades de carne para o mercado asiático, como para China e Oriente Médio. “Tudo isso tem colocado o país com um resultado simplesmente espetacular nas vendas de carne bovina nessa temporada”, sintetiza.
Perspectivas para o segundo semestre
Mesmo com o adicional tarifário imposto pelos Estados Unidos, o analista de Safras & Mercado acredita que o Brasil ainda conseguirá exportar grande quantidade de carne bovina, desempenho que levará o país a estabelecer novo recorde de embarques em 2025.
Iglesias ressalta que o tarifaço dos Estados Unidos acentuou o movimento de queda dos preços da arroba. “Tínhamos a percepção que a entrada de animais confinados, muitos firmados em contratos a termo nessa temporada, possibilitariam que a indústria tivesse uma posição confortável de suas escalas e a questão das tarifas dos Estados Unidos acabaram aumentando essa pressão baixista dentro do mercado do boi”, afirma.
De acordo com ele, reflexo disso é a perda do patamar de R$ 300 a arroba em São Paulo, com a média negociada entre R$ 290 e R$ 295.
Novos mercados ao Brasil
O analista enxerga que Austrália, Uruguai e Argentina serão os principais beneficiados com a ausência da carne bovina brasileira nos Estados Unidos, uma vez que a tarifa de 50% sobre as exportações torna as vendas para aquele mercado inviáveis.
“Para atender os Estados Unidos, esses países vão deixar outros mercados de lado. Então pode acontecer um rearranjo, uma reorganização dessa corrente de comércio global e o Brasil pode muito bem atender esses países.”
Segundo Iglesias, o Brasil deve ampliar a presença em países que já compram a sua carne e, ao mesmo tempo, buscar novos mercados, como Japão e Coreia do Sul.