política agrícola é falha no país da COP30
 
Esse é o terceiro e último artigo da trilogia sobre a gestão de riscos agrícolas no Brasil. Nos dois anteriores — “Brasil há 147 anos debate gestão de riscos agrícolas sem soluções eficazes” e “O que o mundo aprendeu sobre seguro rural e o Brasil ainda ignora” — mostrei um paradoxo triste e verdadeiro: o mesmo governo que criou o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) é o que hoje o enfraquece.
Encerramos essa trilogia mais pessimista, com um país que chega à safra 2025/26 repetindo o velho padrão de improviso na política agrícola. Mesmo após décadas de debate sobre gestão de riscos, o Brasil ainda privilegia o socorro emergencial em vez da prevenção de prejuízos. Com a confirmação da La Niña, que deve provocar veranicos prolongados e chuvas irregulares no Centro-Sul, a nova safra já nasce sob alerta — e sem o respaldo adequado do seguro rural.
Os sinais de deterioração são claros. Dados do Banco Central mostram que a inadimplência do crédito rural atingiu 9,3%, o maior índice da série. Já os pedidos de recuperação judicial aumentaram 36% no primeiro semestre de 2025. Além disso, a contratação de crédito de custeio caiu 23%, os investimentos recuaram 44% e a área segurada despencou mais de de 14 milhões de 2021 para cá, protegendo menos de 3 milhões de hectares — ou seja, 3% da área agrícola nacional.
Enquanto o PSR encolhe, o governo reforça políticas emergenciais. Foram destinados R$ 11,9 bilhões ao Desenrola Agricultura Familiar, beneficiando cerca de 30% de um milhão de agricultores endividados, e mais R$ 12 bilhões via MP 1.314/2025 para renegociar dívidas — sem exigir seguro rural como parte da solução.
Outro problema grave: o governo não possui contabilidade oficial sobre quanto gasta todos os anos com renegociações. Essa ausência de transparência expõe a falta de uma política clara de gestão de riscos públicos. Em 2024, o seguro rural recebeu apenas 3,7% dos R$ 26 bilhões aplicados nas principais políticas agrícolas, embora seja de seis a oito vezes mais eficiente que o crédito ou o Proagro no uso do recurso público.
Desde 2003, o seguro rural indenizou mais de R$ 32 bilhões, sendo R$ 22 bilhões apenas nos últimos cinco anos — valores que evitaram novas renegociações e mantiveram produtores em atividade. Imagine o resultado se o país tivesse dobrado a aposta no seguro nos últimos quatro anos.
O modelo do seguro rural funciona — é moderno, técnico e sustentável. Falta apenas vontade política para transformá-lo em eixo central da política agrícola. Ele não só protege o produtor, como pode salvar o falido modelo de crédito rural, tornando-o saudável novamente.
Sem previsibilidade orçamentária e prioridade estratégica, o Brasil continuará pagando caro por não aprender a lição que o mundo já domina.
Que país é esse?


*Pedro Loyola é consultor em gestão de riscos agropecuários e financiamento sustentável e coordenador executivo do Observatório do Seguro Rural da FGV Agro.
O Canal Rural e a FGV Agro não se responsabilizam pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seu autor. O Canal Rural se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

 
								 
								 
								
 
								
 
								
 
								
 
								
 
								
 
								
 
								