Enquanto o Brasil paga R$ 1 trilhão em juros, o agro se afoga em dívidas
O Brasil vive um paradoxo que ameaça seu principal motor econômico. Enquanto não equilibrar as contas públicas, os governos pagam quase R$ 1 trilhão por ano em juros sobre uma dívida que já chega a R$ 7,9 trilhões. Esse gasto monumental drena recursos de áreas estratégicas e sufoca justamente quem mais sustenta a economia: o agronegócio.
Com a Selic a 15% ao ano, cada ponto percentual nessa taxa representa bilhões de reais a mais em juros. O resultado é um governo que se endivida para rolar a própria dívida e perde capacidade de investir. O impacto chega ao campo em forma de crédito rural caro e escasso, seguro agrícola enfraquecido e infraestrutura parada.
Campo endividado
A consequência é clara: o endividamento no campo disparou, e a inadimplência cresce rapidamente. Estima-se que mais de 30% dos produtores rurais enfrentam dificuldades para pagar financiamentos, sobretudo os médios e pequenos. Em 2025, as renegociações de dívidas rurais subiram mais de 40%, reflexo direto de juros altos, margens apertadas e atraso nas subvenções.
Sem previsibilidade no Programa de Seguro Rural, o produtor fica vulnerável ao clima e às oscilações do mercado. O agro, que mantém a inflação sob controle e garante o superávit comercial do país, está sendo deixado à própria sorte. Não há como sustentar produtividade e competitividade sem crédito acessível e políticas estáveis.
Problemas estruturais
O problema não está no campo, está em Brasília. O Brasil gasta mais com juros do que com investimentos, e cada real pago ao rentismo é um real a menos em crédito, armazenagem e irrigação. Se o país quiser crescer de forma sustentável, precisa redefinir prioridades: reduzir o custo da dívida, recuperar a confiança fiscal e investir em quem realmente produz.
Enquanto o governo gasta trilhões com juros, o produtor luta para não quebrar. O dilema é simples, continuar financiando o rentismo ou apostar em quem planta, colhe e alimenta o Brasil.


*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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