A crescente tensão entre Irã e Israel já impacta diretamente o agronegócio nacional, principalmente nos custos com insumos e logística. Segundo Leandro Avelar, CEO da JPA Agro, em artigo publicado recentemente, o conflito geopolítico ultrapassa as manchetes e chega ao campo, influenciando o planejamento financeiro e a competitividade dos produtores.
Avelar destaca que a interrupção na produção de ureia no Irã e no Egito, fornecedores relevantes para o Brasil, fez os preços dispararem. O país depende de importações para mais de 85% dos fertilizantes usados, sendo 17% da ureia vinda do Irã. Ao mesmo tempo, o petróleo Brent teve alta superior a 7%, o que refletiu em aumentos de até 15% no preço do diesel, encarecendo o frete e outras operações agrícolas.
Além disso, o impacto vai além da lavoura: ele atinge a cadeia de grãos, a produção de ração e o mercado de proteínas, já que países da região respondem por cerca de 7% das exportações brasileiras do setor. Um eventual bloqueio de rotas marítimas, como o Estreito de Ormuz, poderia intensificar ainda mais esses efeitos.
Apesar do cenário desafiador, Avelar aponta que o Brasil segue colhendo boas safras e com posição forte no comércio global. Mas alerta: é hora de o produtor agir com inteligência, antecipar compras, proteger margens e operar com visão estratégica. Em tempos de volatilidade, informação e agilidade são os maiores ativos do campo.
“É necessário que o produtor rural brasileiro não pense apenas em grãos e máquinas, mas coloque no dia a dia informação, estratégia e resiliência. Nosso agro é gigante, mas não é uma ilha. Só considerando o que acontece à nossa volta é que garantimos que o Brasil siga sendo o celeiro do mundo, mas agora, um celeiro conectado, eficiente e preparado para qualquer tempestade global”, conclui.
O Índice de Ruptura da Neogrid, que mede a ausência de produtos nas gôndolas dos supermercados, subiu para 13,6% em junho, registrando o segundo mês consecutivo de alta. O indicador cresceu 1,3 ponto percentual em relação a maio, quando estava em 12,3%. A elevação foi impulsionada por itens de consumo básico, como arroz, feijão, ovos, leite, café, açúcar e azeite.
A alta na ruptura reflete um cenário de pressão na cadeia de abastecimento, influenciado por instabilidades climáticas em regiões produtoras do país, valorização do dólar e desafios no comércio internacional. Essa combinação tem afetado a oferta de produtos, exigindo mais atenção do setor varejista e da indústria na reposição de estoques. Ao mesmo tempo, os consumidores seguem lidando com preços elevados, especialmente em categorias essenciais.
“O aumento do índice em junho reflete um contexto mais desafiador para a cadeia de abastecimento com influência direta de fatores econômicos e climáticos”, analisa Robson Munhoz, diretor de Relações Corporativas da Neogrid.
Entre os produtos com maior variação, os ovos mantiveram a maior taxa de ruptura, subindo de 20,4% para 20,7%, mesmo com queda nos preços médios. O leite saltou de 11,4% para 13,9%, enquanto o feijão passou de 7% para 9,5%. O azeite teve a maior alta proporcional, de 7,4% para 10,4%. Arroz e café também apresentaram crescimento nas rupturas, com destaque para os impactos climáticos e a oscilação cambial nos preços finais.
O índice considera a indisponibilidade de produtos com base no mix ofertado por cada loja, sem levar em conta o histórico de vendas ou a demanda. A ruptura é calculada a partir da ausência de itens tanto nas prateleiras quanto no estoque físico interno, sendo um sinal de alerta para a eficiência logística do varejo e para a segurança alimentar da população.
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Até junho, o Açúcar Total Recuperável (ATR) acumulado na safra recuou 3,1% – Foto: Divulgação
A produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar apresentaram queda na região Centro-Sul do Brasil em junho, segundo o boletim De Olho na Safra, do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), com base na Plataforma de Benchmarking da instituição. Os dados mostram um cenário desafiador para a safra 2025/26, com impacto direto nos indicadores de eficiência agrícola.
Até junho, o Açúcar Total Recuperável (ATR) acumulado na safra recuou 3,1% em comparação com o mesmo período do ciclo anterior, passando de 125,2 para 121,4 kg por tonelada de cana. Já a produtividade agrícola média (TCH) caiu 10,8%, de 88,9 t/ha para 79,3 t/ha. Como resultado, o indicador de toneladas de açúcar por hectare (TAH) teve queda de 11,5%, indo de 11,2 para 9,9 t/ha. Na comparação mensal, o ATR de junho caiu 4,4% e a produtividade recuou de 88,8 para 79,5 t/ha.
Diante desse cenário, o CTC destaca caminhos para mitigar perdas e recuperar desempenho. Para Henrique Mattosinho, gerente de Desenvolvimento de Mercado do CTC, o uso de genéticas mais modernas, especialmente variedades precoces, é uma das principais estratégias para melhorar a qualidade da matéria-prima e ampliar os ganhos por hectare.
Embora o uso de variedades precoces contribua diretamente para o aumento do ATR, o levantamento da plataforma de benchmarking mostra que, entre abril e junho de 2025, 37% do volume processado ainda não utilizou essas genéticas. Esse dado revela o potencial de melhora com o aperfeiçoamento do planejamento de colheita e adoção de tecnologias mais alinhadas ao potencial produtivo.
O mercado brasileiro do boi gordo voltou a se deparar com tentativas de compra em patamares mais baixos ao longo desta semana.
Conforme o analista de Safras & Mercado Fernando Iglesias, o ambiente segue pautado por escalas de abate relativamente confortáveis por parte dos frigoríficos e pela boa entrada de animais confinados no mercado.
Segundo ele, merece destaque a boa oferta de fêmeas observada na Região Norte. “De maneira geral, o cenário de queda nos abates vem perdendo intensidade em determinados estados”, pontua.
Iglesias acrescenta que o quadro traçado em relação aos Estados Unidos ainda é preocupante, considerando o adicional tarifário que inviabiliza a carne bovina brasileira no mercado norte-americano.
O que esperar de agosto?
O analista de Safras & Mercado avalia que o mês de julho foi “desastroso” para a arroba do boi gordo. No entanto, há sinais de recuperação e preços mais firmes, ao menos nos primeiros 15 dias de agosto.
“O mercado tem condições de operar com preços melhores na primeira quinzena de agosto. Há o dia dos pais, que é um importante motivador de consumo de carne bovina no mercado interno, por exemplo. Então este próximo mês oferece espaço para recuperação da arroba do boi, mesmo que esse movimento seja comedido.”
Para Iglesias, o mercado pecuário brasileiro já assimilou a questão do tarifaço dos Estados Unidos e fez as adequações necessárias quanto à realocação de destino para a proteína embarcada.
“Já no mercado global, estamos em uma expectativa de redirecionamento. Austrália, Uruguai, Argentina e Nova Zelândia devem ganhar mercado nos Estados Unidos, mas como eles não têm uma capacidade de produção muito ampla, ou seja, possuem um ‘cobertor curto’, terão de deixar de suprir necessidades do mercado asiático, do Oriente Médio e de outras nações, que podem, por sua vez, abrir espaço e novas boas possibilidades ao Brasil. Portanto, estamos diante de um rearranjo da corrente do mercado global”, avalia.
Preços médios da arroba do boi
Os preços da arroba do boi gordo na modalidade a prazo nas principais praças de comercialização do Brasil estavam assim em 24 de julho em comparação ao dia 18:
São Paulo (Capital): R$ 290, queda de 1,69% frente aos R$ 295 da semana passada.
Goiás (Goiânia): R$ 278, recuo de 0,81% perante os R$ 280 registrados anteriomente
Minas Gerais (Uberaba): R$ 285, valor inalterado ante o fechamento da semana anterior
Mato Grosso do Sul (Dourados): R$ 295, estável em relação à semana passada
Mato Grosso (Cuiabá): R$ 295, queda de 1,67% frente aos R$ 300 dos últimos sete dias
Rondônia (Vilhena): R$ 258, perda de 2,64% em comparação aos R$ 265 do período anterior
Mercado atacadista
O mercado atacadista se deparou com preços inalterados no decorrer da semana. “Entretanto, o ambiente de negócios sugere a continuidade do movimento de queda no curto prazo, considerando a reposição mais lenta entre atacado e varejo durante a segunda quinzena do mês”, diz o analista.
De acordo com ele, além disso, a carne de frango segue muito mais competitiva em comparação com à carne bovina e às demais proteínas concorrentes.
O quarto do traseiro do boi foi cotado a R$ 21,80 o quilo. Já o quarto do dianteiro do boi foi vendido por R$ 17,50 o quilo, ambos sem alterações frente à semana anterior.
Exportações de carne bovina
Foto: Pixabay
As exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada do Brasil renderam US$ 958,179 milhões em julho (14 dias úteis), com média diária de US$ 68,441 milhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
A quantidade total exportada pelo país chegou a 172,709 mil toneladas, com média diária de 12,336 mil toneladas. O preço médio da tonelada ficou em US$ 5.547,90.
Em relação a julho de 2024, houve alta de 50,5% no valor médio diário da exportação, ganho de 19,5% na quantidade média diária exportada e avanço de 25,8% no preço médio.
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O aumento da procura por soja para o esmagamento tem gerado um excedente de farelo – Foto: Divulgação
Os contratos futuros da soja e do milho encerraram a semana passada em alta na Bolsa de Chicago, impulsionados por fundamentos técnicos e perspectivas de demanda. Segundo a StoneX, o óleo de soja segue encontrando suporte nas expectativas de ampliação dos mandatos de mistura de biodiesel nos Estados Unidos, o que favorece a demanda pela oleaginosa no mercado internacional.
Apesar do otimismo com o consumo, o aumento da procura por soja para o esmagamento tem gerado um excedente de farelo, pressionando os preços desse subproduto. Além disso, as condições favoráveis das lavouras nos EUA impedem que o mercado assuma um aperto no balanço da soja, o que limita a continuidade das altas para o grão em Chicago. Ainda assim, o cenário para o óleo continua sendo o principal motor de sustentação dos preços da soja, e o mercado observa com atenção os próximos desdobramentos na política energética americana.
No mercado de milho, os contratos retomaram força após semanas de baixa. O vencimento dezembro/25 subiu 3,8% na semana, encerrando a US¢427,75 por bushel. A recuperação está ligada, em parte, à resolução de questões comerciais com parceiros como a Indonésia e à previsão de clima mais quente nas principais regiões produtoras dos EUA, o que gera preocupação com a produtividade da safra.
Na B3, os preços também avançaram. O contrato setembro/25 fechou cotado a R$ 65,45 por saca, alta de 2,4% no período. O mercado segue atento aos desdobramentos climáticos e à evolução da demanda global, que continuam sendo fatores determinantes para o comportamento das cotações nos próximos dias, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Quando se fala em formigas na lavoura, muitos produtores logo associam à perda de produtividade. E com razão: espécies como saúvas e quenquéns são conhecidas por causar desfolhamento severo, comprometendo a saúde e o desenvolvimento das plantas. No entanto, nem todas as formigas representam risco. Algumas exercem funções ecológicas fundamentais, sendo até indicadoras da saúde ambiental.
Quem explica esse cenário é a bióloga Ana Eugênia de Carvalho Campos, especialista em insetos sociais. Segundo ela, o primeiro passo é entender que formigas são insetos altamente organizados, com funções complexas dentro do ecossistema.
“Se a gente retirasse formigas e cupins da floresta amazônica, ela colapsaria”, afirma.
Quais espécies causam prejuízo à lavoura?
As vilãs: cortadeiras
As principais inimigas do agricultor são as formigas cortadeiras, dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns). Elas cortam folhas e as transportam para o ninho para cultivar fungos que servem de alimento para a colônia. Esse comportamento pode comprometer toda uma área produtiva se não for monitorado e controlado adequadamente.
Além disso, certas espécies de formigas mantêm uma relação simbiótica com pragas como pulgões e cochonilhas, protegendo esses insetos em troca de substâncias açucaradas que eles produzem. Isso indiretamente agrava o problema fitossanitário.
Estratégias eficazes de controle
Para lidar com as formigas problemáticas, a bióloga destaca a importância do manejo integrado de pragas (MIP). Ações como:
Monitoramento pré-plantio para localizar e controlar ninhos;
Uso de barreiras físicas nas plantas, impedindo a escalada das cortadeiras;
Aplicação localizada de iscas formicidas;
Adoção de produtos biológicos e químicos com responsabilidade;
Manutenção de áreas com vegetação nativa nas entrelinhas do cultivo.
Essas práticas promovem resiliência no agroecossistema, diminuindo a dependência de produtos químicos e reduzindo impactos ambientais.
Formigas benéficas: por que preservá-las?
Segundo dados da literatura científica, o Brasil abriga cerca de 2.500 espécies de formigas, sendo a maioria benéfica ao solo e à biodiversidade. Elas ajudam a:
Arejar o solo, promovendo a infiltração da água;
Incorporar matéria orgânica e nutrientes;
Controlar populações de outros insetos;
Dispersar sementes, favorecendo a regeneração vegetal.
Em regiões semiáridas, por exemplo, há registros de que certas plantas só germinam após passarem pelo trato das formigas, o que demonstra seu papel insubstituível.
Bioindicadoras de sustentabilidade
As formigas também têm se mostrado excelentes bioindicadoras de mudanças climáticas e degradação ambiental. Quando há desequilíbrio em determinada área, a comunidade de formigas se transforma: espécies mais sensíveis desaparecem, e outras mais resistentes ocupam o espaço.
Por isso, projetos de restauração ecológica já utilizam o monitoramento de formigas como métrica de sucesso, inclusive em áreas de mineração e reflorestamento.
A especialista Ana Eugênia falou sobre esse tema e muito mais no programa A Protagonista, em uma conversa com Jaqueline Silva. Com base em sua experiência no estudo de formigas e no manejo sustentável no agro, ela trouxe reflexões valiosas sobre o equilíbrio ecológico nas lavouras. Acompanhe a entrevista completa e entenda por que conhecer melhor esses insetos pode transformar sua produção.
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A tecnologia tem sido grande aliada nesse processo – Foto: Divulgação
A busca por maior qualidade na produção de sorgo tem se tornado estratégica para o produtor rural, que deseja aliar rentabilidade e competitividade. A colheita com “carga limpa”, livre de impurezas como palha, sementes daninhas e terra, permite melhor aproveitamento dos grãos e redução de custos com secagem, armazenamento e transporte. Além disso, cargas mais limpas evitam descontos nos armazéns e podem elevar em até 10% o valor final recebido.
A tecnologia tem sido grande aliada nesse processo. A Advanta Seeds, por exemplo, desenvolveu a tecnologia Igrowth, a primeira solução não transgênica voltada ao cultivo de sorgo com tolerância a herbicidas da família das imidazolinonas. Essa inovação, criada por mutagênese, permite controle mais eficaz das plantas daninhas, contribuindo para uma lavoura mais limpa e produtiva, além de facilitar a colheita mecanizada.
Segundo Pedro Lima, engenheiro agrônomo e gerente de marketing da Advanta Seeds, o uso de híbridos com essa tecnologia assegura grãos mais puros, melhora o rendimento operacional e proporciona precocidade e tolerância ao acamamento. A prática da carga limpa, porém, depende de todo um sistema: do planejamento de plantio ao treinamento da equipe.
“Com essa inovação, o produtor tem mais liberdade no controle de plantas daninhas, que são grandes vilãs na hora da colheita, contribuindo para cargas sujas e perdas de produtividade”, destacou.
Com a perspectiva de exportações de sorgo para mercados exigentes como a China, o produtor precisará redobrar os cuidados no campo. Um dos pontos críticos é o controle do Sorgo Halepense (Sorghum halepense), planta daninha proibida no comércio internacional por seus impactos agronômicos e ambientais. A presença dessa invasora pode comprometer a comercialização, inclusive com risco de devolução de cargas.
Fabricante de produtos à base de madeira, como guarnições e molduras, a indústria Millpar decidiu dar férias coletivas de 15 dias a 640 funcionários da unidade de Guarapuava, na região dentral do Paraná. Essa notícia ficou entre as reportagens mais lidas do Canal Rural nesta semana.
A assessoria de imprensa da companhia destaca que a produção é direcionada para exportação, sendo o mercado norte-americano o maior consumidor.
Todos os funcionários temporariamente afastados são do setor de manufatura de produtos exportados. Segundo a assessoria, a empresa cogita estender a medida a mais trabalhadores, a depender do desenrolar da situação nos próximos dias.
Importância do setor ao Paraná
Ao todo, a Millpar possui 1.109 colaboradores divididos entre as unidades de Guarapuava e Quedas do Iguaçu, no centro-sul paranaense. Contudo, segundo a assessoria de imprensa, a medida foi aplicada, inicialmente, apenas na primeira planta, atingindo 57,7% dos trabalhadores.
A Millpar produz itens à base de madeira, como molduras, rodapés, forros, painéis para embalagens, componentes para escadas, janelas e móveis, entre outros itens.
Reportagem do G1 também enfatiza que estimativas da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre) mostram que o Paraná é um dos principais exportadores de produtos de madeira para os Estados Unidos.
No estado, o setor madeireiro gera cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos, considerando os trabalhadores florestais e os que atuam em indústrias do segmento.
De acordo com a Apre, em 2024 o Paraná exportou mais de US$ 627 milhões em produtos florestais, como molduras de madeira, paineis compensados, madeira cerrada e diferentes tipos de celulose.
Em um comunicado surpresa nessa sexta-feira (25), a Venezuela anunciou que passará a cobrar tarifas aduaneiras de 77% sobre produtos brasileiros.
A sobretaxa atinge, principalmente, o óleo e o grão de soja vendidos ao país vizinho, mas também margarina, farinha, cacau, cana-de-açúcar e produtos lácteos e afeta, sobretudo, os exportadores que escoam esses produtos por Roraima.
Desta forma, a medida atinge bens com certificados de origem que, conforme acordos firmados anteriormente, deveriam estar isentos de alíquotas de importação.
A Federação das Indústrias do Estado de Roraima (Fier) foi informada que a cobrança também atingiu Argentina, Paraguai e Uruguai, os demais sócios do Mercosul.
O comentarista do Canal Rural Miguel Daoud lembra que a Venezuela está suspensa do bloco desde 2017 por descumprimento de normas democráticas acordadas entre os membros.
“Portanto, não tem legitimidade para manipular regras comerciais em nome do bloco regional. Mesmo assim, continuava usufruindo de benefícios tarifários com base no Acordo de Complementação Econômica (ACE-69), do qual agora também desvirtua os termos”, destaca.
Em 2024, o Brasil alcançou superávit de quase US$ 778 milhões com o país vizinho, o equivalente a R$ 4,3 bilhões com o país vizinho.
Em entrevista à CBN, o assessor econômico da Fier Fábio Martinez afirmou que a cobrança de taxas extras pode inviabilizar investimentos na região.
“A Federação da Indústria ainda não fez o cálculo. A gente tem ali em torno de 70% das nossas exportações que vão para Venezuela. Então teremos algum impacto considerável, mas a gente está esperando para verificar de fato se essa tarifa foi uma coisa definitiva por parte do governo venezuelano ou só transitória. Claro que o foco principal dessa indústria está na Guiana e no Caribe, mas o mercado venezuelano é muito importante para a gente e se a gente tiver de fato essa incidência dessa taxa, isso acaba inviabilizando talvez novos projetos de indústria que foquem no mercado venezuelano”, ressaltou.
De acordo com a federação, os produtos comercializados para a Venezuela já sofriam uma cobrança de 17%. Agora, no caso da soja, que é o item mais exportado, a cobrança extra será de até 77%.
A Fier ainda aguarda um posicionamento das autoridades venezuelanas para identificar as causas da cobrança das tarifas.
A dívida da Venezuela com o Brasil é, atualmente, superior a R$ 9 bilhões por conta de financiamentos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros mecanismos.
“Ainda assim, escolhe hostilizar o único país que lhe estendeu apoio político contínuo nas últimas décadas. O presidente Lula sempre defendeu o diálogo com Caracas e, em diversos momentos, usou o prestígio diplomático brasileiro para blindar o regime de Nicolás Maduro em fóruns internacionais”, ressalta Daoud.
Para ele, a medida tarifária venezuelana é uma tentativa desesperada de proteger seu mercado interno, marcado por hiperinflação e desabastecimento crônico. “Em vez de fortalecer laços com os poucos países que ainda lhe estendem a mão, Maduro decide punir o Brasil, prejudicando diretamente pequenos e médios produtores brasileiros da fronteira.”
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que tem acompanhado, em coordenação com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, os relatos sobre dificuldades enfrentadas por exportadores brasileiros na Venezuela.
Contudo, a nota do Itamaraty não faz menção a tarifas impostas pelo governo de Nicolás Maduro porque ainda não há uma confirmação oficial do governo venezuelano de imposição das tarifas ao Brasil.